segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Artigo comentado - ed. 02


Título: "Mitos e Verdades em Ciência e Religião: Uma Perspectiva Histórica"
Autor: Ronald L. Numbers
Periódico: Revista de Psiquiatria Clínica
Ano: 2009

Esta edição do Artigo Comentado pretende trazer um pouco das discussões do último dia de encontros do grupo de estudo do NASCE no ano passado, quando estudamos esse artigo (clique sobre seu título para visualizá-lo).

Nele é retratado um panorama histórico envolvendo a relação ciência-religião. No senso comum, já existe uma ideia pré-estabelecida de uma incompatibilidade desses dois segmentos, imagem construída em função de desmandos dos religiosos para com cientistas ocorridos, principalmente, no período medieval e em alguns anos subsequentes.

O artigo, no entanto, direciona o leitor para compreender que a relação de aversão dos religiosos não era, levianamente e propriamente dita, para com a ciência, mas para com aqueles e para com tudo aquilo que ameaçasse os dogmas religiosos e a confortável posição de suserania da Igreja naquelas épocas, repercutindo em perseguições diversas, como a Galileu e Giordano Bruno, citados no artigo.

Interessante, também, é uma visão que esse texto nos permite depreender, na consideração de que espiritualidade (até aquela com desdobramentos religiosos) e ciência não são necessariamente incompatíveis. Como exemplo, foi mencionado Charles Darwin, que, juntamente com Alfred Wallace, foi autor da teoria evolucionista alicerçada na seleção natural.


Muitas pessoas acreditam que Darwin rompeu com sua fé religiosa em razão de ter trazido à tona e compreendido alguns dos princípios da evolução. Jim Moore, grande estudioso de Darwin, relata que não foi a publicação de A Origem das Espécies, no ano de 1859, a causa do seu rompimento com a religião. Pelo contrário, demonstra como a morte do pai, do irmão e da filha fizeram Darwin questionar a justiça do Deus em que ele acreditava.

Não obstante, é inegável que algumas pessoas, desde aquela época até os dias de hoje, pensam que é impossível os ensinos bíblicos estarem em harmonia com as verdades já estabelecidas pela ciência - principalmente frente à análise do livro Gênesis, de Moisés. Um dos grandes motivos disso é a imaturidade que muitos de nós temos hoje, adotando uma postura impetuosa de querer enxergar na Bíblia um tratado de ciências do século XXI, e não uma belíssima obra da literatura do povo hebreu, escrita há milênios e possuidora de diversos gêneros textuais, como a poesia.

Não nos questionamos o contexto em que ela foi escrita, nem buscamos saber as peculiaridades culturais/linguísticas que o povo que a escreveu tinha, e sequer fazemos esforços para estudar a visão que esse povo tem dela, o que nos tornaria capazes de penetrar no seu enorme simbolismo e ter entendimentos muito maiores do que os que uma mera visão literal pode oferecer.

Esse ato de ignorar completamente os grandes avanços que a Linguística Textual do nosso século já conquistou repercute em visões que se polarizam em fundamentalismos religiosos e científicos, com enorme intolerância para com quem tenha pensamentos divergentes.


Nutridos de enorme respeito a todos - independentemente de crenças ou não-crenças, segundo alguns posicionamentos - é que fazemos um convite, que não diz respeito ao esquecimento da história - a qual deve continuar viva, a fim de nos alertar para os erros do passado e impedi-los de acontecerem novamente -, mas que nos conclama ao esquecimento de atavismos oriundos de situações do passado, que já citamos.

Busquemos dar as mãos, sem rivalidades, construindo uma ciência apoiada pela espiritualidade, sem jamais esquecer do alimento da verdadeira ciência - a razão, a lógica e o bom senso -, nem das necessidades que o mundo nos exige hoje, de nos vincularmos aos outros, seja no exercício profissional ou nos demais momentos de nossa vida, em laços de evasão do egoísmo, de compreensão, de atitudes de amor e de respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário