quarta-feira, 12 de setembro de 2012

"Conjecturas e Refutações" (O Progresso do Conhecimento Científico) " - Karl R. Popper

                                                         Karl R. Popper (1902-1994)   


"Quando pode uma teoria ser classi ficada como científica? Existe um critério para classificar uma teoria como científica?" Estas são as questões principais que o grande filósofo da ciência, Karl R. Popper, tentará responder em seu livro Conjecturas e Refutações, de 1963.

Ao observador desatento, pode parecer que a Ciência seja estática, pronta, completa e intocável. Mas esse pensamento é errôneo. O conhecimento científico, em termos de pressupostos, não é algo linear. Ele tem fundamentos que mudam conforme o contexto histórico. Tais fundamentos são analisados pela Filosofia da Ciência (1).

A filosofia de Popper é marcada por duas características principais:

1) a crítica à logica indutiva, segundo a qual seria possível a obtenção de leis gerais a partir da observação dos fatos singulares; (Popper critica dizendo que "..independentemente de quantos cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos").

2) e o problema da demarcação, ou seja, como distinguir Ciência de pseudociência? A resposta mais comum dada a essa questão era a de que “a ciência se caracterizava pela sua base na observação e pelo método indutivo, enquanto a pseudociência e a metafísica se caracterizavam pelo método especulativo” (2).  Em outras palavras, o que diferenciaria a Ciência da pseudociência seria o caráter de verificabilidade da Ciência.  Essa explicação era considerada insatisfatória por Popper. Ele citava, por exemplo, que as teorias da Físca moderna, como a teoria geral da relatividade de Einstein, eram altamente abstratas e especulativas, enquanto que muitas crenças supersticiosas apoiavam-se na observação, baseando-se muitas vezes em algo parecido com a indução. Se a verificabilidade for apenas uma exigência para as conclusões derivadas de teorias científicas, então a teoria do feiticeiro que prediz que amanhã chove ou não chove (não precisamos esperar até amanhã para saber que será verificada), ou do astrólogo que vaticina “alguém importante morrerá brevemente”, deverá ser considerada científica (3).

Karl Popper propõe então uma nova linha demarcatória: o princípio da refutabilidade ou falsificabilidade. Segundo esse princípio, uma teoria, para ser considerada científica, deve possuir pelo menos um falsificador potencial. Vamos tentar esclarecer a questão com um exemplo: suponhamos a teoria de que "todos os corvos são pretos". Ela é falseável (não confundir com falsa), pois o encontro de um único corvo não-preto desmente a teoria.  Já a asserção  "todos os corvos são brancos ou não-brancos" não é falseável, ou seja, ela não seria científica. Uma teoria que nada proíbe, não seria científica.

Em oposição à lógica indutiva, Popper propunha o modelo hipotético-dedutivo, segundo o qual "..a melhor maneira de fazer ciência é elaborar imaginativamente teorias ou conjecturas ousadas, mas submetê-las depois a testes rigorosos concebidos para as refutar ou falsificar. As melhores teorias científicas são as que resistem a tais testes." Para ele, as teorias científicas são invenções, construções humanas: “As teorias podem ser vistas como livres criações da nossa mente, o resultado de uma intuição quase poética, da tentativa de compreender intuitivamente as leis da natureza”. O processo de criação de uma teoria pode envolver aspectos não-racionais; a imaginação, a criatividade e a especulação usualmente desempenham papéis importantes. Inclusive a metafísica pode servir de fonte: “Não há ‘fontes últimas’ do conhecimento. Toda fonte, todas as sugestões são bem-vindas; e todas as fontes e sugestões estão abertas ao exame crítico”(3).

Como podemos observar, o modelo de construção científica é mais complexo do que supõe a maioria das pessoas. A Ciência não é tão exata quanto parece. Estudar Filosofia da Ciência nos torna pesquisadores mais humildes e mais capacitados para contribuir com o avanço das investigações científicas.

Boa leitura!

Referências bibliográficas:
1) Filosofia da ciência e os fundamentos do conhecimento científico: uma panorâmica - Elnora Gondim; Osvaldino Marra Rodrigues.
2) Conjecturas e Refutações - Karl R. Popper.
3) A Filosofia da Ciência de Karl Popper: o Racionalismo Crítico - Fernando Lang da Silveira.

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